Na
tarde de hoje (16 de junho), dezenas de ativistas, atendendo a convocação da
Frente Independente pela Memória Verdade e Justiça de Minas Gerais, promoveram
o rebatismo popular do viaduto José Alencar, que a partir de agora chama-se
Viaduto Douglas Henrique e Luiz Felipe.
O jovem Douglas Henrique, de 21 anos, operário metalúrgico, participava do protesto de 100 mil pessoas em 26 de junho e caiu do viaduto durante o ataque da polícia militar com uma chuva de bombas de gás lançada contra os manifestantes. Ele faleceu na madrugada seguinte, após horas de cirurgia.
“Ele queria lutar por um Brasil melhor, por saúde e educação, que é o que todos querem” – declarou sua irmã Letícia Aparecida, após a morte de Douglas.
Luiz Felipe, de 22 anos, um jovem trabalhador, participava do protesto de 200 mil pessoas em 22 de junho e também caiu do viaduto durante ataque da PM. Ele ficou internado em estado grave no Hospital João XXIII até seu falecimento, no dia 11 de julho, mesmo dia em que sua filha completou um ano de vida.
Durante o ato de rebatismo do viaduto, a avó de Luiz Felipe, a Sra. Carmelita, declarou a redação de AND que seu neto foi um trabalhador e que participava do protesto “porque estava lutando por todo mundo”. “Os políticos aparecem para pedir votos, mas deixam um absurdo como esse viaduto nessas condições. Meu neto caiu porque não tinha proteção nenhuma, isso não pode acontecer com mais pessoas” – denunciou a Sra. Carmelita apontando o vão livre do viaduto que não possui sequer uma grade de proteção, um local de passagem de milhares de pessoas, próximo a um estádio Mineirão e a Universidade Federal de Minas Gerais.
Ataques policiais com bombas de gás e de efeito moral e tiros de borracha disparados contra os protestos populares de 17, 22 e 26 de junho em Belo Horizonte, datas de partidas da copa das confederações da Fifa no Mineirão, provocaram grande tumulto e correria entre os manifestantes que se encontravam sobre esse viaduto causando a queda de seis manifestantes e a morte dos dois jovens.
Durante
o ato, a Avenida Antônio Carlos foi bloqueada pelos manifestantes durante mais
de uma hora. Oradores de diversos movimentos populares denunciaram a brutal
repressão policial contra os manifestantes nas jornadas de lutas de junho.
“Não
foi acidente, a morte dos dois jovens companheiros foi provocada pela Polícia Militar,
pela Força Nacional e pelo Exército, ordenados pelo prefeito Márcio Lacerda,
pelo governador Anastasia e por Dilma Rousseff” – denunciou uma ativista.
“Esse
não é um ato simbólico, estamos mudando o nome desse viaduto em honra a dois
bravos companheiros que são mártires da luta de nosso povo, não permitiremos
que essas faixas com seus nomes sejam retiradas e caso sejam retiradas,
colocaremos outras em seu lugar.” – afirmou uma oradora.
“Esse
ato não se encerra aqui, continuaremos com as manifestações, continuaremos
denunciando a violência do Estado, o assassinato de jovens. Continuaremos nossa
luta pela punição dos torturadores e assassinos de ontem e de hoje, civis e
militares, todos os responsáveis pelo sofrimento de nosso povo” – afirmou uma
ativista.
Também
fizeram uso da palavra professores e operários saudando a luta e a memória dos
dois jovens que agora dão nome ao viaduto.
Um
amigo de Luiz Felipe pediu a palavra e falou emocionado do modo como o “Estado
fascista” tirou a vida de seu amigo que lutava por melhor educação, saúde, por
um país melhor. Outro amigo erguia um cartaz com fotos de Luiz Felipe com os
dizeres: “Este jovem é vítima de um Estado Fascista”.
Fotos
dos dois jovens foram coladas nos muros do viaduto acompanhadas de textos
relatando a luta da qual fizeram parte.
Seus
nomes foram gritados por todos que respondiam: Presente! Agora, e sempre!
No
encerramento do ato, quando os ativistas organizavam-se para se retirar,
policiais tentaram prender duas jovens acusando-as de ter pichado um muro do
viaduto. Dezenas de ativistas, a maioria mulheres, cercaram as jovens exigindo
sua libertação, questionando o motivo da prisão. Os policiais alegavam tê-las
preso em flagrante e eram respondidos com firmeza pelos ativistas que afirmavam
não haver flagrante algum. Nossa reportagem registrou todos esses fatos.
Um
membro da Associação Brasileira de Advogados do Povo assumiu a defesa das
ativistas que tiveram seus documentos retidos pelos policiais.
Até
as 21:30 horas de hoje (momento em que esse texto foi postado) elas já haviam
sido transferidas para duas delegacias diferentes acompanhadas do advogado e de
uma comissão de manifestantes que decidiram permanecer junto das jovens até que
fossem postas em liberdade.
O
Viaduto Douglas Henrique e Luiz Felipe foi marcado com sangue e luta, e com
luta foi rebatizado. Ao cair da noite, dezenas de vozes cantaram a música
Aroeira, de Geraldo Vandré, cujo refrão diz: “É a volta do cipó de aroeira no
lombo de quem mandou dar!”.
O
sangue derramado por Douglas, Luiz Felipe e as outras 20 pessoas assassinadas
pelas forças de repressão do velho Estado em diferentes regiões do país durante
as jornadas de junho não foi derramado em vão. Ele está presente e será sempre
lembrado e honrado pelos lutadores do povo.
No
muro do Viaduto, nessa noite de 16 de junho, em grandes letras, estava gravado:
COMPANHEIROS DOUGLAS E LUIZ FELIPE, PRESENTE! ESTADO E PM, A CULPA É SUA!
ABAIXO A REPRESSÃO! FORA PM!
Muito importante que os nomes dos lutadores sejam lembrados em todos os monumentos do país e do mundo, para que eternize a afirmativa que a polícia serve aos opressores e assassinam o povo que luta contra toda está situação que é insuportável, mas que não tarda a mudar !
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